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Leandro Nigre

LEANDRO NIGRE

Pai do Joões, em seu plural consagrado, João Guilherme e João Rafael, esposo da Dayane, jornalista, palestrante, articulista sobre paternidade, especialista em Mídias Digitais, editor-chefe de jornal impresso, em Presidente Prudente.

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O dia em que o vovô foi morar no céu

Um dia não haverá não só abraço, mas o aperto de mão, o diálogo, a troca de olhar, o sorriso, a voz... Talvez nem mesmo a oportunidade de um último adeus.

11 de Agosto de 2018
3 comentários

Dia 23 de julho de 2018. Ainda que não perdesse a esperança sobre a misericórdia divina e a confiança em sua soberana vontade, sabia que naquela manhã uma difícil missão acompanharia minha família. O vovô Claudio foi morar no céu!

Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo que precisasse ajudar a administrar todos os trâmites burocráticos deste momento no falecimento do meu sogro, algumas dores me arrancavam o ar: a de não conseguir amenizar o sofrimento da minha esposa de ter perdido o pai e a angústia em buscar a melhor decisão para contar para meu filho de 5 anos que, agora, o vovô não estaria mais fisicamente entre nós.

Levar ou não ao velório? Como ele reagiria diante do corpo? Como as pessoas se comportariam ao ver o neto querido se aproximar do caixão? Ainda que a dúvida tenha nos acompanhado desde a notícia até o sepultamento, não o levamos. Não queria que ele tivesse na memória a imagem do avô ali, assim como eu guardei a do meu, ao perdê-lo aos 9 anos.
Meu sogro não era apenas o pai da minha esposa, mas o meu também. Era o avô coruja dos meus pequenos, companheiro, solidário, amigo, divertido. Após o sepultamento, me encontrei com meu filho, agachei na frente dele e o lembrei que o vovô estava doente e que, agora, ele havia ido morar no céu. Ele me olhou fixamente nos olhos e me disse uma única coisa:

- “Papai, você também vai morrer?”.
- “Filho, o vovô morreu por estar doente. Papai quer ver você casar, ter filhos, eu quero brincar com meus netos”.
- “Mas o seu cabelo está ficando branco”.
- “É, está, mas isso não significa que o papai vai morrer”.
- “E embora o vovô tenha ido morar com o Papai do céu, ele está vivo em nossas lembranças e no nosso coração. Você se lembrará de escorregar no barrigão do vovô, de jogar bola com ele, de ir ao pesqueiro, de tudo de legal que fizeram juntos”.

A minha família conheceu a dor da ausência, viveu durante os dias subsequentes todos os questionamentos do meu pequeno acerca dos motivos da morte, além das lágrimas incontidas de saudades, de uma dor que dói como se nunca fosse parar de doer.
A morte é uma das certezas da vida, que é “um sopro” para empilharmos maus sentimentos. O cantor católico Thiago Brado nos aconselha que “...passado não volta, futuro não temos e o hoje não acabou. Por isso, ame mais, abrace mais, pois não sabemos quanto tempo temos pra respirar. Fale mais, ouça mais. Vale a pena lembrar que a vida é curta demais”.

Eu não sei quem você vai abraçar neste domingo do Dia dos Pais. Na minha família, a dor da ausência certamente se fará presente, assim como tem sido nos últimos 50 dias. Eu terei os braços do meu pai, a minha esposa não sentirá os do dela. E aposto que, se tivesse uma nova chance, após esta experiência, ela daria o mais demorado abraço de toda sua vida. A fé e a confiança de que o vovô está no acolhimento eterno é o que nos conforta. Talvez você ainda tenha quem abraçar hoje e todos os demais dias de sua vida e não o faz. Pode até não ser o pai. Quem sabe um irmão, um filho, um amigo...

Esteja capacitado para amar e não apenas dizer “eu te amo”... Um dia não haverá não só abraço, mas o aperto de mão, o diálogo, a troca de olhar, o sorriso, a voz... Talvez nem mesmo a oportunidade de um último adeus. Mas só o desejo de que tudo isso voltasse no tempo. Ame mais!
 

* Os textos só podem ser reproduzidos mediante autorização do autor e desde que citada a fonte 

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MAIS 3 COMENTÁRIOS

Juliana

17 de Junho de 2020

Olá! Me diga depois desse tempo como foi a experiência de vcs e como está o "hoje" sem o vovô! Passamos por essa experiência há poucos dias, meu sogro ficou doente e faleceu muito rapidamente, minha filha de 4 anos e ele eram muito ligados, um amor de outra vida sabe? Dar a notícia foi uma das piores coisas da minha vida! Ela chorou, tampou minha boca para eu parar de falar, falou que era pra eu dizer que era mentira, que como ela ia sobreviver sem o vovô, disse que queria ir com ele...foi muito triste! Depois, no decorrer do dia e ainda algumas vezes, olha para o céu e oferece as coisas pra ele, fala que está vendo o vovô ao lado do Deus...Mas está bem, brinca, faz tudo normal, acho que nós estamos mais angustiados com o futuro sem ele do que ela. Meu sogro também era um pai pra mim...E saber que ele não estará mais nas viagens, no buscar ela na escolinha, enfim, em tudo que fazia com ela, me corta o coração, pensando na falta que ele irá fazer...como isso passa? Essa angústia? Obrigada.

Leandro Nigre

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Só Deus e o tempo...manter esta memória viva é saudável também a eles, mesmo que ainda doa as lembranças. A todos nós angustia, haverá dias mais suaves na saudade e outros mais intensos. Acolher a dor alheia e não negá-la foi o melhor a ser feito por aqui, seja com nós, adultos ou, do meu pequeno. Aliás, ela se diferencia, não se quantifica.

Tata Nigre

14 de Agosto de 2018

Ame sempre, abrace sempre, esteja junto sempre das pessoas que amamos pois a vida realmente é um trem bala

Luciana

12 de Agosto de 2018

Que lindo

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