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Leandro Nigre

LEANDRO NIGRE

Pai do Joões, em seu plural consagrado, João Guilherme e João Rafael, esposo da Dayane, jornalista, palestrante, articulista sobre paternidade, especialista em Mídias Digitais, editor-chefe de jornal impresso, em Presidente Prudente.

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Respiração oral gera consequências na fala

Entre elas, alterações no crescimento crânio-oro-facial, na alimentação, na postura corporal e na qualidade do sono

12 de Maio de 2017
3 comentários

Dificuldade na escola, falta de atenção e problemas de memória, postura, dentição, olheiras e até de interação com os colegas. Se seu filho passa por situações como essas, o problema pode estar no fato de ele respirar pela boca. A chamada Síndrome da Respiração Oral é mais comum e grave do que se imagina e conduz a uma série de consequências para o crescimento e desenvolvimento dos pequenos.

Foto: Divulgação

Quando a pessoa nasce, é o nariz que desempenha a função da respiração. Ela propicia qualidade ao ar que inspiramos, limpa, filtra, aquece e umidifica-o fazendo com que chegue aos pulmões com uma boa qualidade, protegendo as vias aéreas. Este tipo de respiração favorece o posicionamento correto dos órgãos da face, garantindo o bom desempenho das funções de mastigação, deglutição e fala. Mas nem sempre a respiração é assim. "Devido a rinites, hipertrofia das amígdalas ou adenóides, flacidez dos músculos da face, desvio do septo nasal, ou até mesmo mau hábito, as crianças podem alterar o seu modo de respirar começando a fazê-lo pela boca", explica Raquel Luzardo, fonoaudióloga, especialista em linguagem e atendimento infantil.

Gabriel, 7 anos, sempre estava com o nariz entupido e olheiras, mas foi durante a ida ao dentista que a mãe descobriu que o filho sofre da Síndrome da Respiração Oral. Durante a avaliação, a dentista notou que o menino estava com a arcada dentária mau posicionada e língua e lábios flácidos. "Ela começou a me explicar que a respiração dele era oral e estava causando tudo aquilo. Primeiro era necessário resolver o problema da respiração para depois corrigir os dentes", conta a mãe Kátia, que foi aconselhada a procurar primeiro por uma fonoaudióloga para trabalhar o fortalecimento da musculatura dos lábios e língua e só depois retornar a dentista. Gabriel iniciou o tratamento em novembro do ano passado. Os exercícios propostos pela profissional são bem lúdicos, diz a mãe. "Ele assopra bexiga tentando puxar o ar pelo nariz, estala a língua, segura um clips com os lábios, mas tudo dentro do contexto de uma brincadeira para estimulá-lo a fazer os exercícios, que são realizados uma vez por semana com a fono e depois em casa. O que ele mais gosta é estourar chocolate m&m com a boca, espertinho", diz.

Em novembro, Kátia retornou com o filho a dentista e a profissional ficou impressionada com o resultado do tratamento com a fonoaudióloga. A melhora foi bastante significativa a ponto de a dentista avaliar que neste momento ele não precise usar aparelho para corrigir os dentes. Os exercícios de fonoaudiologia ajudaram a melhorar o perfil facial do Gabriel, além do posicionamento dos dentes. Mas ele ainda respira um pouco pela boca devido a rinite alérgica que sofre.

Respiração oral e suas consequências

A respiração oral pode ter como consequências alterações no crescimento crânio-oro-facial, na fala, na alimentação, na postura corporal, na qualidade do sono e no desempenho da criança ao longo do dia. A fala pode estar alterada devido à flacidez da musculatura facial, do posicionamento da língua, de uma má oclusão dentária ou por deficiências no crescimento da face.

As alterações de fala mais descritas nos respiradores orais são: anteriorização da língua na produção dos fonemas línguo-dentais (t-d), imprecisão nos fonemas bilabiais (p,b,m) e fricativos (f,v,s,z,ch,j) e ceceio frontal ou lateral.

Também é importante referir que as crianças respiradoras orais podem ter tendência a serem mais irritáveis e agitadas, assim como podem apresentar sonolência diurna ou imaturidade nas habilidades de processamento auditivo. Todas estas intercorrências podem acarretar dificuldades escolares. Além disso, podem não gostar de atividades que exijam esforço físico, pois cansam-se facilmente.

Segundo Raquel, o respirador oral é vulnerável a otites. Isto pode interferir na capacidade de percepção dos sons da fala durante o desenvolvimento, determinando atrasos ou alterações. Esta dificuldade na percepção dos sons dificulta a aquisição e correção da fala e da escrita.

– Respirar pela boca pode deformar o rosto e alterar a posição dos dentes, da língua (prejudicando fala e mastigação) e até mudar a postura. Pode evoluir para doenças cardiorrespiratória e endocrinológica

– Alimentação: é difícil respirar e comer ao mesmo tempo, por isso há preferência a comidas fáceis de mastigar e há cansaço ou irritação nas refeições. A criança come com a boca aberta já que não tem respiração funcional pelo nariz. Come pouco e tem baixo peso.

– Escola: a noite mal dormida diminui a concentração e atenção, prejudicando o rendimento escolar. O aprendizado da leitura e escrita, por exemplo, é mais lento. Kátia conta que Gabriel dormia a noite toda, mas sempre acordava com olheiras porque não era um sono saudável, já que não respirava corretamente.

– Autoestima: as dificuldades no desenvolvimento da comunicação mexem com a autoestima, gerando agitação e agressividade, especialmente na interação com os colegas. Tudo isso acaba gerando estresse, cansaço e ansiedade.

Como identificar a respiração oral?

Crianças com a Síndrome da Respiração Oral apresentam as características:

  • Padrão respiratório predominantemente oral (inclusive durante o sono);

  • Barulho ao respirar, indicativo de perturbação respiratória;

  • Perturbações durante o sono (ressonar e/ou existência de secreções salivares);

  • Alterações craniofaciais (ósseas e musculares - rosto alongado);

  • Alterações ortodônticas (mordida aberta, incompetência labial, palato/céu da boca ogival);

  • Alterações na postural corporal (cabeça e ombros projetados para a frente);

  • Olheiras.

Como tratar?

Devido às múltiplas causas e consequências da Síndrome da Respiração Oral, a abordagem terapêutica deverá ser feita por vários especialistas. Neste sentido, a abordagem multidisciplinar conta com a atuação de fonoaudiólogos, médicos alergistas, otorrinolaringologista, dentista e fisioterapeuta.

Qual o papel do fonoaudiólogo?

Ele é o responsável pela avaliação dos órgãos fonoarticulatórios (lábios, língua, bochechas e palato) e das estruturas estomatognáticas de respiração, mastigação, deglutição e fala. E responsável pela reeducação da musculatura oral e aprendizagem de um padrão respiratório costodiafragmático. O fonoaudiólogo irá fazer uma reeducação, onde o paciente irá re-aprender a fazer uso do nariz.

Como os pais podem ajudar?

  • Ensinar a criança a limpar bem o nariz.

  • Lavar com soro fisiológico.

  • Fazer exercícios de fortalecimento de lábios (beijinhos, assobios, encher bochechas e evitar que rebentem quando se bate nelas).

  • Segurar clipes de papel entre os lábios enquanto vê televisão, monta um quebra-cabeça ou pintar um desenho.

  • Soprar bolas de sabão inspirando pelo nariz e expirando pela boca.

Nos primeiros anos de escolaridade, a pronúncia das palavras influencia diretamente a aprendizagem da leitura e escrita a ponto de afetar a aquisição e desenvolvimento das mesmas. Uma pesquisa da Ufes, de 2013, mostrou que 24% das crianças do ensino fundamental de Vitória, com idades entre 6 e 12 anos, são respiradores bucais. "As consequências estruturais e funcionais da respiração oral, muitas vezes são irreversíveis espontaneamente, então torna-se necessário uma identificação o mais precocemente possível para que uma atuação multidisciplinar possa atuar", orienta Raquel.

Respirar pelo nariz é essencial para o bom funcionamento de outras funções (mastigar, engolir e falar) promovendo uma melhor qualidade de vida à criança. Hoje o Gabriel, tem a pele mais corada, não tem olheiras e mais disposição. "Nunca imaginei que aquelas olheiras do meu filho era um problema de respiração. Quando olho a foto dele um pouco menor e comparo com uma atual vejo como não tinha percebido isso antes. É nítida a melhora", comemora Kátia.

(Com informações da AI da fonoaudióloga Raquel Luzardo)

 

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MAIS 3 COMENTÁRIOS

Adrian

18 de Abril de 2018

Texto perfeito,tudo que eu precisava saber obg ajudou muito!

Leandro Nigre

Compartilhando a paternidade ativa

Seja sempre bem-vindo, Adrian!

Neocimara

01 de Novembro de 2017

Olá, tenho uma filha de 9 anos e o dentista identificou mordida aberta. Então encaminhou para a fono e otorrino. O otorrino simplesmente examinou em uma consulta rápida e disse que não tinha nenhum problema nas vias respiratórias. Na escola que ela estuda tem fono então conversei com a mesma e pedi para atender e trabalhar respirar e posição da língua, mas a mesma me solicitou encaminhamento da professora. Disse que não pode ser encaminhamento do dentista, como ela trabalha na educação é necessário encaminhamento da escola, e segundo ela essa situação deveria ir para a saúde. Gostaria de saber se existe uma regulamentação do Conselho de fonoaudiologia que regulamenta essa norma. fonoaudiólogo que trabalha na educação não pode receber paciente(alunos) que foram encaminhados por profissionais da área da saúde. Acredito que esse problema da minha filha interfere diretamente o pedagógico. Qual sua orientação. sendo que preciso do atendimento público e no município é a única profissional disponível? Como trabalho na escola pedi pra professora encaminhar minha filha, mas fiquei indignada pois o encaminhamento era com os anexos de avaliação para sala de recursos, a professora também ficou surpresa pois não tem um protocolo de fono para ser preenchido? Isso é correto sendo que minha filha não é caso de avaliação psicopedagógica no contexto escolar? como proceder ? att. Neocimara

Pablo Ozorio

21 de Maio de 2017

Parabéns pelo excelente artigo. Informativo e didático!

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